ACERG

Associação de Criadores de Equinos da Raça Garrana

Raça Garrana

DEFINIÇÃO E ENQUANDRAMENTO ETNICO

A Raça Garrana é uma das quatro raças de equinos autoctones de Portugal, juntamente com a Lusitana, a Sorraia e o Pónei da Terceira. Embora criado em liberdade o Garrano é classificado taxonomicamente como cavalo domestico: Especie Equus caballus L. 1758, Subfamilia Equinae, familia monogenerica Equidae.

Bernardo Lima inseriu o Garrano no tipo céltico ou Galiziano: “cabeça grossa, pelo geral mais curta que comprida, de perfil recto ou um tanmto amartelado, ganachuda, de orelhas pequenas e direitas, estatura pelo mais comum abaixo de 1,35 m. São cavalos de rija tempera sóbrios, muito ciosos e rufões por indule”.

Padrão da Raça

Síntese do padrão da raça garrana (homologado em 30 de Novembro de 1993).

TIPO - Perfil recto, por vezes côncavo. Animais de corpo atarracado, pernicurtos, de sólida constituição óssea. O seu peso rondará os 150 quilos.

ALTURA - Medida ao garrote, nos animais adultos <1,35 m. Altura recomendável: 1,23 m.

PELAGEM - Castanha comum, podendo tender para o escuro; quase sempre sem sinais. Mais clara no focinho puxando para o bocalvo, por vezes também mais clara no ventre e nos membros. Topete farto. Crinas pretas tombando para ambos os lados. Cauda também preta, com borla de pelos encrespados na raiz.

CABEÇA - Fina mas vigorosa e máscula. Nos machos é grande em relação ao corpo, proporcionalmente maior que nos cavalos. Perfil recto, por vezes côncavo. O crânio insere-se sempre na face com grande inclinação, de forma a que a parte superior da fronte é convexa de perfil; a crista occipital é pouco saliente em relação aos côndilos. Órbitas salientes sobre a fronte transversalmente planas. Os olhos são redondos e expressivos. Narinas largas. Orelhas médias. Os dentes são característicos. As ganachas são fortes e musculosas.

PESCOÇO - Bem dirigido e musculoso, mas curto e grosso, especialmente nos garanhões.

GARROTE - Baixo e pouco destacado.

DORSO - Recto e curto.

PEITORAL - Amplo.

COSTADO - Costelas geralmente chatas e verticais.

GARUPA - De ancas saídas, é forte, larga, tendente para o horizontal.

ESPÁDUA - Vertical e curta.

MEMBROS - Aprumados, curtos mas grossos. Fortes, de quartelas direitas, vestidas de pêlo grosso. Cascos cilíndricos.

ANDAMENTOS - Geralmente fáceis, rápidos, de pequena amplitude mas altos. Nos caminhos de montanha são firmes a subir e a descer e cuidadosos com as pedras e os obstáculos das estradas acidentadas. Facilmente ensinados a andar em passo travado e andadura.

TEMPERAMENTO - Caracter dócil. O macho inteiro tem muita vivacidade mas, após o desbaste, torna-se tolerante no trabalho e manso. É um cavalo de fundo, resistente, sóbrio e fácil de ensinar.

APTIDÃO - Cavalo de sela, transporte de carga e tração, com especial aptidão para caminhos de montanha, trabalhos agrícolas e atrelagem.

Os andamentos dos Garranos são característicos. O passo travado, designado pelos romanos como numeratim (números contados), é intermediário entre o passo e o trote, ouvindo-se quatro batidas, muito precipitadas e aproximadas por fases diagonais; os movimentos fazem-se com grande rapidez mas, como as oscilações verticais do centro de gravidade são fracas, as reações são suaves. A andadura, designado pelos romanos como molliter incedere (andar suavemente), caracteriza-se pelas associações dos membros laterais que se levantam e pousam ao mesmo tempo, fazendo-se ouvir duas batidas em cada passada; como a base de sustentação passa alternadamente de um bípede lateral para outro, o cavalo move-se na horizontal e o cavaleiro é embalado confortavelmente. Este tipo de passo é erradamente chamando de passo travado.

Census actuais

Em 1870, no Recenseamento Geral dos Gados, Bernardo Lima calculou em 65.000 o total nacional de equinos com altura ao garrote abaixo de 1,48 m. Em 1938 o efetivo Garrano contava cerca de 40.000 equinos, distribuídos pelo Norte e Centro do Pais. Desde então o efetivo e a aérea de dispersão reduziram-se drasticamente.

Em 1994, Portugal viu a raça Garrana ser classificada pela União Europeia como “ameaçada” (C.E.R.E.O.P.A.), visto a população de fêmeas reprodutoras no país de origem ser inferior a 3.000 cabeças.

Atualmente o efetivo é composto por 1563 fêmeas, 208 machos e 617 explorações.

Considera-se que a estabilidade qualitativa e quantitativa e da raça depende da prossecução dos trabalhos do Livro Genealógico, dos predadores (lobo) e, essencialmente, do estabelecimento de alternativas à sua tradicional utilização.

Desenvolvimento/Melhoramento

Em 1993, a necessidade de identificar a população de cavalos ditos selvagens das serras minhotas levou o Serviço Nacional Coudélico (M.A.D.R.P.) à definição do Padrão da raça e à criação do Registo Zootécnico (R.Z.). A sistematização do trabalho de campo e a adesão dos criadores incentivados pelo apoio à manutenção de raças autóctones em linha pura (Reg. 2078/92) permitiu a evolução para Livro Genealógico (L.G.), gerido pela Associação de Criadores de Equinos de Raça Garrana (A.C.E.R.G.), com sede em Vieira do Minho.

No Registo Fundador (antigo Registo Zootécnico) foram registados os adultos (fêmeas e machos, idade superior a três e quatro anos) que correspondiam ao Padrão, apesar da ascendência desconhecida: pelagem castanha, altura ao garrote igual ou inferior a 1,35 m, perfil recto ou côncavo. Foram identificados com marcas a fogo: símbolo da raça na Coxa Direita (C.D.) e número sequencial do Livro Fundador na E.D.. A marca a fogo foi alterada para os animais inscritos no Livro de Adultos (L.A.) a partir de 2009 - .

O L.G. inclui o Livro de Nascimento (L.N.) e o Livro de Adultos (L.A.). No L.N. é inscrita a descendência dos animais registados no Registo Fundador ou no Livro Adultos. Os animais do Livro de Nascimento são identificados com marcas a fogo: letra do ano (“P” em 1996,etc, em 2016 “M”) e o número sequencial desse ano na Espadua Direita (E.D.). É-lhe colocado um microchip na tabua esquerda do pescoço e colhido sangue para determinação do genótipo.

No L.A. são inscritos os garranos previamente inscritos no Livro de L.N., após controlo de filiação compatível (determinação de genótipo) e aprovação como reprodutores (provas morfo-funcionais). Os animais inscritos no L.F. só serão aprovados como reprodutores depois de realizada a prova morfo-funcional.

Todos os animais do L.N., do L.A. e do R.F. serão identificados com resenho gráfico e descritivo, marca a fogo, para o L.A. e R.F. o símbolo da Raça, na coxa Direita (C.D.). Para o L.N. letra do ano e numero sequencial. Todos os animais serão identificados com microchip e colhido sangue para determinação do genótipo.

Para todos os animais inscritos no L.A., ou no R.F. a Direção Geral de Alimentação e Veterinária (D.G.A.V.) emitirá um Documento de Identificação de Equídeos (D.I.E.) vulgarmente designado como passaporte ou Livro Azul, sendo-lhe atribuído o UELN (Universal Equine Life Number) ou número único vitalício.

Galeria Fotográfica
Área geográfica

Atualmente a área de criação da raça Garrana situa-se na região Noroeste de Portugal, encontrando-se os Garranos dispersos pelas províncias do Minho (concelhos de Amares, Arcos de Valdevez, Cabeceiras de Basto, Caminha, Melgaço, Monção, Paredes de Coura, Ponte da Barca, Ponte de Lima, Povoa de Lanhoso, Terras de Bouro, Valença, Viana do Castelo, Vieira do Minho, Vila Nova Cerveira e Vila Verde) e Trás-os-Montes (concelho de Montalegre), numa extensão de 1577,13 km2 (41% da área total dos concelhos referidos).

No Parque Nacional da Peneda-Gerês, das 22 freguesias que lhe estão afetadas e pertencentes aos concelhos de Arcos de Valdevez, Melgaço, Ponte da Barca, Terras de Bouro e Montalegre, 15 contribuem para o solar de dispersão da raça garrana, num total de 696,89 km2 (96,8% da área total do Parque).

Na Zona de Meia Encosta, de transição entre o litoral e o interior montanhoso, predominam as encostas com declives variáveis, sendo a paisagem dominada pela agricultura em socalcos. Na Zona de Montanha, de altitude superior a 700 metro, as terras altas e declivosas encontram-se sujeitas a forte erosão, pondo a nu afloramentos de rocha granítica. É a zona mais agreste da região, em que se registam as precipitações mais elevadas (atingindo os 3.000 mm anuais) e onde as amplitudes térmicas e as geadas se fazem sentir com mais intensidade. È também a de maior expressão, incluindo o Parque Nacional da Peneda-Geres com uma extensa área montanhosa que se estende do planalto de Castro Laboreiro ao da Mourela, onde cabeços rochosos e vales encaixados, rios e afluentes, circos glaciares e moreias alternam com largos trechos de paisagem humanizada. Compreende as Serras da Peneda (1314 m), do Soajo (1416 m), Amarela (1361 m) e do Geres (1508 m). Fora do Parque mas ainda no Minho, outros conjuntos montanhosos estão povoados por Garranos, como as Serras de Arga (797 m), de Monção (744 m), de Paredes de Coura (890 m) e da Cabreira (1279 m). Em Trás-os-Montes, a Serra do Larouco (1527 m).

Perspectivas Futuras

A raça Garrana constitui um valioso património genético, pois é uma das raças com maiores índices de variabilidade genética, sendo considerada um factor de enriquecimento do ecossistema e biodiversidade da região. É também considerada um importante património zootécnico e cultural, constituído um elemento fixador das populações rurais em zonas economicamente deprimidas. No entanto, é na sua especial aptidão como cavalo de sela e tiro ligeiro – ideal para a iniciação à equitação e fundamento do turismo equestre de montanha – que está depositada a esperança de salvar esta “raça ameaçada”.

Assim, a preservação da raça Garrana passa por explorar as suas aptidões naturais, encontrando alternativas à utilização tradicional e adaptando-as aos utilizadores actuais.

Alguns exemplos:

  • Hipismo: iniciação à equitação, diversas modalidades destinadas a póneis, especialmente vocacionadas para crianças e jovens; equitação terapêutica;
  • Turismo equestre: percursos de montanha, atrelagem, corridas de passo travado;
  • Valorização de actividades turísticas: Turismo Rural;
  • Visitas a Parques e Reservas Naturais: Parque Nacional da Peneda Gerês;
  • Actividades de Vigilância: Parques e Reservas Naturais, rebanhos, caça, floresta (deteção de fogos);
  • Actividades sociais: reabilitação de deficientes físicos e toxicodependentes;
  • Actividades pedagógicas: elemento faunístico de grande impacto no contexto da pedagogia ambiental.